INVASÃO, HEROÍSMO E MASSACRE NA VILA DO ESPÍRITO SANTO DO AMAPÁ em 1895
O combate foi travado num contexto interno adverso ao Brasil, no qual a França insistia,
contrariando o art.107 do Tratado de Viena de 1815, em confundir nosso extremo Norte no
Araguari e não no Oiapoque, o que seria definido em função do episódio em foco e a ação
de Rio Branco, em Berna, em 1º de dezembro de 1900.
A tropa francesa aportou na Vila Amapá, a bordo da canhoneira Bengali. Desembarcou e
tomou posições de combate.
Seu comandante, o Capitão Lunier, à frente de 20 homens, dirigiu-se à casa de
Cabralzinho, que saiu altivo ao seu encontro.
Lunier perguntou-lhe três vezes se ele era o Governador do Amapá.
Cabralzinho respondeu - sim!
Então, Lunier deu-lhe voz de prisão e Cabralzinho respondeu-lhe determinado: “Um
brasileiro não se rende a bandidos“!
Lunier então ordenou a sua tropa que fizesse fogo sobre Cabralzinho que então se jogou
ao chão e os tiros passaram por sobre sua cabeça.
Lunier sacou seu revólver para alvejar Cabralzinho e este com extrema rapidez e agilidade,
deu uma rasteira em Lunier e o desarmou.
E nova rajada da tropa não o atingiu. E, ato contínuo, alvejou à bala o Capitão Lunier e a
seguir um tenente e um sargento que lhe foram em socorro. Matou os três, deixando a
tropa francesa acéfala.
Seguiu-se cerrado e demorado tiroteio entre soldados franceses e brasileiros, que só
terminou com a retirada dos franceses. Aí surgiu mais uma tropa de franceses, ao
comando do Tenente Jean Destoup. Teve lugar o combate contra os brasileiros, tocaiados
nas casas e matas, o que prosseguiu até às 14 horas.
Neste espaço, Cabralzinho defrontou-se num corpo a corpo com o porta-bandeira D’
Escrienne. E terminou levando a melhor, ferindo-o à bala na cabeça e arrebatando-lhe a
bandeira francesa, o seu revólver e a sua espada.
Pouco mais tarde, matou em duelo à bala dois marinheiros franceses. Um deles
assassinara a menina Joana, de 12 anos, e o outro matara o prático do porto.
Sob pressão, a força brasileira retraiu para a mata. O porta-bandeira, parcialmente
recuperado, incitou a tropa francesa ao saque, ao massacre e à destruição do mastro e da
bandeira brasileira.
Do massacre, resultou a morte de 38 brasileiros, ferimentos em 22, tendo sido feitos dois prisioneiros.
A tropa francesa pagou o pesado tributo de retornar à Guiana derrotada, sem bandeira,
com 06 mortos e 22 feridos e com o peso na consciência de ter de explicar o covarde
massacre e saque da Vila Amapá.